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A Universidade Federal de Itajubá (Unifei), fundada em 1913 com o nome de Instituto Eletrotécnico e Mecânico de Itajubá – IEMI, por iniciativa pessoal de Theodomiro Carneiro Santiago e patrocínio de seu pai, Coronel João Carneiro Santiago Júnior, e que desejava organizar em sua cidade um estabelecimento para a formação de engenheiros mecânicos e eletricistas, onde o ensino fosse voltado para a realidade prática, e o ambiente de trabalho fosse tão aproximado quanto possível da vida real, para evitar o choque experimentado pelo estudante quando deixava os bancos escolares para ingressar na vida profissional.

Com essa intenção, o Dr. Theodomiro viajou, em 1912, para a Europa e os Estados Unidos, com a finalidade de estudar os novos métodos de ensino técnico, contratar professores e adquirir equipamentos e utensílios para os laboratórios da futura instituição. O fundador almejava, sobretudo, homens práticos, capacitados para serem úteis à indústria nacional, à sociedade e à grandeza do país.

Foram então contratados na Bélgica, da Universidade de Liége, o Dr. Armand Bertholet e os Drs. Arthur Tolbecq e Victor Van-Helleputte, ambos da Universidade do Trabalho de Charleroi, sendo o Dr. Bertholet grande prêmio do Instituto Montefiori, e aqui chegaram, em janeiro de 1913, iniciando-se as aulas em março do mesmo ano. O Instituto funcionou provisoriamente junto ao Ginásio de Itajubá.

Outros três professores europeus chegaram depois: os Drs. Fritz Hoffmann e Arthur Spirgi, ambos engenheiros suíços e o Dr. Pierre François Objois, engenheiro francês. Mais tarde foi completado o quadro de Docentes do IEMI com o ingresso de engenheiros brasileiros. As primeiras aulas foram ministradas em francês, dado a exiguidade de tempo para que os professores aprendessem o idioma português.

O Educador sonhava com a sua Escola de Eletricidade e Mecânica que haveria de ser a mais eficiente da América do Sul. Theodomiro Santiago era, antes de tudo, um realizador.

Norteou sua vida no pensamento de Goethe, em Fausto, “Palavras houve já de sobra, daí-me, enfim, feitos: vamos à obra” (A ação antes das palavras) e no lema do General Lázaro Hoche, o pacificador de Vendéia, durante a Revolução Francesa: “Res, non verba” (Fatos, e não palavras), criando o aforismo: “Revelemo-nos, mais por atos do que por palavras, dignos de possuir este grande País”.

Theodomiro Santiago não se esquecia desta observação de Augusto Comte: “É mister relacionar a sabedoria teórica com a admirável sabedoria prática”. E ele próprio deixou esta lição, que hoje está gravada em bronze na sua Universidade, e que sempre norteou o estabelecimento que fundou:

“Se a ciência é filha da observação e da experiência, estes são, em verdade, os processos pelos quais principalmente ela deve ser ensinada”.

E por que Theodomiro queria uma escola de Eletricidade e Mecânica, e não uma faculdade de Direito, de Farmácia ou Medicina? Porque essas já havia, e boas, no país, embora poucas, não existindo, no entanto, escolas especializadas em Eletricidade e Mecânica, pelo menos em condições de formar técnicos com a perfeição que ele ambicionava.

A inauguração oficial do IEMI deu-se em 23 de novembro de 1913, em sessão solene com a presença do presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca e do vice-presidente, Dr. Wenceslau Braz Pereira Gomes.

Além de outras figuras de vital importância na vida política e nos centros de decisão do país, merecem ser destacadas as presenças do General Pinheiro Machado, Vice-Presidente do Senado e do Dr. Sabino Barroso, Presidente da Câmara Federal. Compareceram, também, Rivadávia Corrêa, Ministro da Fazenda; Dr. Barbosa Gonçalves, Ministro da Viação e Obras Públicas; e o Dr. Paulo de Frontin, Diretor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro e da Estrada de Ferro Central do Brasil, além de ser o Presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro.

Quando discursava o Dr. Theodomiro Santiago, defendendo seu ponto de vista sobre o ensino da engenharia, levantou-se o Eng. Paulo de Frotin para rebater, com veemência, as ideias do orador. Surgiu então calorosa discussão entre os dois, que causou tumulto na assistência, dividida entre duas correntes de aplausos aos contendores, o que resultou, afinal, no encerramento da sessão, pela retirada do presidente da República e demais autoridades. Esse desagradável incidente, que repercutiu em todo país através da imprensa, é também visto por alguns como um importante marco na evolução da tecnologia brasileira, pelo entrechoque de opiniões entre os que defendiam a predominância do aspecto prático no ensino e os que defendiam a predominância do aspecto teórico.

A primeira turma de 16 alunos engenheiros mecânicos-eletricistas formou-se em 1917, ano em que o Instituto foi oficialmente reconhecido pelo Governo Federal – Art. 9º da Lei nº 3232, de 05.01.1917, e quando nela ingressaram os primeiros professores brasileiros, Engº. José Procópio Fernandes Monteiro e Mário Albergaria Santos. O curso tinha então a duração de três anos, tendo passado para quatro anos, em 1923 e, afinal, para cinco, em 1936, quando o curso foi completamente reformulado para a sua equiparação ao da Escola Politécnica do Rio de Janeiro; passou então a ser simplesmente curso de engenheiros eletricistas, e o nome da escola foi mudado para Instituto Eletrotécnico de Itajubá – IEI.

A Escola foi federalizada em 1956, mas a denominação de Escola Federal de Engenharia de Itajubá- EFEI só foi adotado em 1968. Em 1963, o curso foi desdobrado em dois independentes, um de engenheiros mecânicos e outro de engenheiros eletricistas. No início da década de 1960, avaliava-se que a escola de Itajubá tinha formado cerca de 40% do total de engenheiros dessas especialidades existentes no Brasil.

Em 1921, foi instalado nas oficinas da escola um forno elétrico, para a redução de minérios de ferro e de manganês, tendo vindo, para isso, um técnico suíço, especialmente contratado pelo Governo Estadual. Nesse mesmo ano é feito um projeto – por professores e ex-alunos da escola, de um laboratório termo hidroelétrico, que seria o primeiro no gênero na América do Sul. Esse laboratório foi inaugurado em 1928, com máquinas e equipamentos suíços. Uma longa reportagem na “Revista Brasileira de Engenharia”, de outubro de 1928, descreve minuciosamente as instalações desse laboratório, que incluíam um grupo diesel-elétrico, um motor a gás pobre, turbinas tipo Francis, Kaplan e Pelton, além de bombas e outros equipamentos, podendo todas as máquinas funcionar simulando várias situações reais de emprego: a turbina Pelton tinha uma instalação com queda de 100m.

O Dr. Theodomiro Santiago ocupou a direção da Escola até 1930, quando foi exilado para a Europa por motivos políticos. Durante a sublevação constitucionalista de 1932, fora deportado para Portugal, juntamente com outros revolucionários que comungavam dos mesmos sentimentos pátrios. Seu sucessor foi o Eng. José Rodrigues Seabra, ex-aluno da escola, formado na primeira turma, e que era professor desde 1921.

A instituição quando era particular teve um momento marcante em sua história com o falecimento de Theodomiro Carneiro Santiago, ocorrido no Rio de Janeiro em 25 de outubro de 1936. Todo o patrimônio do então IEI – Instituto Eletrotécnico de Itajubá passou a fazer parte de seu espólio.

Foi um complicador a mais para a instituição, que com poucos alunos e tendo o Banco de Itajubá S.A. como credor, sentia sua administração financeira, a cada dia que passava, mais complexa.

O Instituto, já sob a direção de José Rodrigues Seabra, teria anos muito difíceis pela frente.

Os professores que permaneceram lecionando davam o maior exemplo de desprendimento, dedicação e abnegação ao IEI, trabalhando sem contar com o salário no fim do mês; mas eles lá permaneceram, e o Instituto não fechou. Em 1944 o Banco de Itajubá já não podia permanecer financiando o funcionamento de uma Escola, cujo passivo era cada vez maior.

Apareceram alguns interessados que se propuseram a liquidar a dívida em troca do acervo do Instituto, cujas instalações seriam transferidas para Campinas – SP.

A imprensa nacional passou a propalar a notícia da aquisição dos equipamentos do Instituto Eletrotécnico de Itajubá por industriais paulistas ligados à Companhia Paulista de Estradas de Ferro, com sede em Campinas. A partir de então e impulsionados pelos estudantes, os poderes políticos do estado e do município e toda a sociedade abraçaram a causa da permanência do Instituto em Itajubá.

Foi quando dois ex-alunos do IEI, engenheiros João Braz Pereira Gomes e Vidal Dias, da turma de 1918 do antigo IEMI, resolveram constituir, com a participação dos professores do estabelecimento, a Fundação Instituto Eletrotécnico de Itajubá, que passaria a ser a proprietária e mantenedora da instituição.

A Fundação foi constituída com capitais fornecidos pela CSME – Companhia Sul Mineira de Eletricidade, representada pelo seu diretor Técnico, Vidal Dias, e pela CISM – Companhia Industrial Sul Mineira – Fábrica de Tecidos Codorna, representada pelos seus diretores João Braz Pereira Gomes e José Braz Pereira Gomes. Cada uma dessas empresas participou com a quantia de Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros).

Em sua edição de 19 de agosto de 1945, o jornal “O ITAJUBÁ” em artigo intitulado “Instituto Eletrotécnico de Itajubá” noticiava que depois de tantos meses de ansiedade: “O Instituto eletrotécnico não mais sairia daqui”. Em 7 de setembro de 1945, com a presença de autoridades, professores, ex-alunos, alunos e demais convidados houve o descerramento da placa de mármore fixada até hoje no saguão da entrada do Prédio Central da Universidade, com os seguintes dizeres:

“Homenagem dos alunos e do povo de Itajubá às CSME e CISM, aos Dr. João B. P. Gomes, José B. P. Gomes e Vidal Dias e a todos que abnegadamente, lutaram pelo engrandecimento do IEI. 7/9/45.”

Foram diretores e reitores do IEMI, IEI, EFEI e Unifei desde a sua Fundação:

Dr. Theodomiro Carneiro Santiago, de 1913 a 1936;

Dr. José Rodrigues Seabra, de 1936 a 1951;

Dr. Antônio Rodrigues d’Oliveira , de 1951 a 1953;

Dr. João Luiz Carneiro Rennó, de 05.08.1955 a 20.08.1955;

Dr. Pedro Mendes dos Santos, de 17.12.1953 a 03.06.1970;

Dr. Fredmarck Gonçalves Leão, de 04.06.1970 a 15.10.1974;

Dr. Zulcy de Souza, de 16.10.1974 a 17.10.1978;

Dr. José Abel Royo dos Santos, de 18.10.1978 a 17.10.1982;

Dr. Fredmarck Gonçalves Leão, de 18.10.1982 a 16.10.1986;

Dr. Ulderico Mandolesi, de 17.10.1986 a 16.10.1990;

Dr. Fredmarck Gonçalves Leão, de 16.11.1990 a 15.11.1994;

Dr. José Carlos Goulart de Siqueira, de 16.11.1994, em Brasília. Reeleito em 05.10.1998;

Dr. Renato de Aquino Faria Nunes, de 2004 a 2008, reconduzido ao cargo para mandato de 2008 a 2012.

Dr. Dagoberto Alves de Almeida, de 2013 a 2016, reconduzido ao cargo para mandato de 2017 a 2020.

Dr. Edson da Costa Bortoni, atual reitor (mandato 2021-2024).

Dando prosseguimento a uma política de expansão capaz de oferecer atendimento mais amplo e diversificado à demanda nacional e, sobretudo, regional de formação de profissionais da área tecnológica, a instituição partiu para a tentativa de se transformar em Universidade Especializada na área Tecnológica – UNIFEI, modalidade acadêmica prevista na nova Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional- LDB. Esta meta começou a se concretizar a partir de 1998 com a expansão dos cursos de graduação ao dar um salto de dois para nove cursos, através da aprovação de sete novos com a devida autorização do Conselho Nacional de Educação- CNE. Posteriormente, foram implantados mais dois novos cursos de graduação.

A concretização do projeto de transformação em Universidade deu-se em 24 de abril de 2002, através da sanção da lei número 10.435, pelo presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. A passagem da Escola Federal de Engenharia de Itajubá – EFEI à Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI foi o legítimo reconhecimento do Governo Federal a uma instituição com até então 87 anos de relevantes serviços prestados à engenharia nacional, e que sempre lutou em prol do desenvolvimento sustentável da nação; e uma homenagem póstuma a Theodomiro Carneiro Santiago, cuja memória jamais esmaecerá do pensamento de todos os seus discípulos, símbolo de cidadão útil e exemplar aos pósteros que, como ele, creem na grandeza do Brasil.

Na época da transformação da então Escola Federal de Engenharia de Itajubá em Universidade Federal de Itajubá, o professor José Carlos Goulart de Siqueira, assumiu como Reitor Pro-tempore a partir de 09.05.2002 e o Prof. Felício Barbosa Monteiro como seu vice. A primeira eleição para reitor ocorreu em 2004, quando assumiu o Prof. Renato de Aquino Faria Nunes e seu vice, Prof. Paulo Shigueme Ide, que foram reeleitos em 2008.

Através de uma parceria pioneira entre governo local (Prefeitura Municipal de Itabira), setor privado (empresa Vale), Ministério da Educação (MEC) e Universidade Federal de Itajubá (Unifei), foi dado início a implantação do Campus Itabira, cujas atividades tiveram início em julho de 2008 com a realização de seu primeiro vestibular. O Convênio de Cooperação Técnica e Financeira, firmado entre a Unifei, a mineradora Vale e a Prefeitura de Itabira, garantiu a construção do campus da universidade e a montagem dos laboratórios.

Esse convênio estabeleceu o comprometimento da Vale com o provimento dos equipamentos destinados aos laboratórios dos cursos, que são utilizados nas atividades de formação, geração e aplicação de conhecimento. À Prefeitura de Itabira coube prover a infraestrutura necessária ao funcionamento da Unifei e doá-las (terreno e benfeitorias) à universidade. A área já destinada e alocada ao Complexo Universitário possui aproximadamente 604 mil m² no Distrito Industrial II da cidade.

Deverão ser criados cerca de 500 empregos diretos e 800 indiretos no município. O corpo docente do campus, nesta fase inicial de implantação, será composto por aproximadamente 160 professores, além de 96 servidores técnico-administrativos, atendendo a uma população universitária de 2.250 alunos em cinco anos, quando as metas pactuadas entre os parceiros tiverem sido atingidas.

Hoje, as atividades da Unifei operam nas instalações do Parque Tecnológico de Itabira e no primeiro prédio do complexo, que abriga espaços administrativos e de aprendizagem. O edifício possui cerca de 4 mil m² e foi projetado com foco na sustentabilidade, prezando pela eficiência energética e arquitetura de baixo impacto.

A proposta do Campus de Itabira é de uma universidade essencialmente inovadora e tecnológica, com ensino e pesquisa voltados às demandas atuais e futuras de mercado, incentivo ao empreendedorismo e comprometimento com o desenvolvimento local e regional.

A Universidade continuou, em paralelo a consolidação do campus Itabira, sua expansão na sede (Itajubá), implantando mais cursos de graduação e de pós-graduação.

A Unifei, historicamente, sempre atuou em conjunto com o desenvolvimento do país, contribuindo para o salto de um Brasil predominantemente agrário, em 1913, para a era do conhecimento científico e tecnológico dos dias atuais.

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